quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Relembrando "A memória da água"

Eliane encenou ao lado de Andréa Beltrão e Ana Beatriz Nogueira a peça "A memória da água". Relembramos esse espetáculo através da Matéria publicada no 'Jornal da Tarde' no dia 11 de janeiro de 2002, Caderno C - Variedades.


Três irmãs abertas para balanço


Andréa Beltrão, Eliane Giardini e Ana Beatriz Nogueira são estrelas de “A memória da água”, peça da inglesa Shelagh Stephenson, que mostra três irmãs reunidas para organizar o velório da mãe e, principalmente, prestar contas com um passado diferente para cada uma delas.
André Nigri – Jornal da Tarde


    “Eu acho que as suas memórias não são as mesmas que as minhas” diz uma das irmãs na peça “A memória da água”. No texto da autora inglesa Shelagh Stephenson, cada uma das protagonistas possui uma versão diferente do passado, embora as três irmãs tenham crescido juntas na mesma casa.

    No começo da peça que  estreia em São Paulo hoje- depois de uma temporada de sucesso no Rio- elas estão reunidas para organizar o funeral da mãe na casa onde passaram a infância e a adolescência. Ali elas dão inicio a uma espécie de balanço emocional de suas vidas provocado pela morte de sua mãe, elemento que as mantinha unidas. 

    É esse, em resumo, o enredo de “A Memória da água”, a mais recente montagem dirigida pelo carioca Felipe Hirsch- autor e diretor entre outras, A Vida é cheia de Son & Fúria, inspirada no romance Alta Fidelidade”, de Nick Hornby.

    Mais uma vez Hirsch recorre a um texto estrangeiro para investigar os caprichos da memória e o uso que dela as pessoas fazem para reconciliar-se com o passado e restaurar o equilíbrio no presente.

    Em cena Andréa Beltrão é o destaque do elenco no papel de Maria, uma médica neurologista de 38  anos, inteligente, fria e que mantém um caso com um colega casado. Por seu desempenho a atriz foi indicada para os prêmios Governador do Estado e Shell.

    Maria, a filha mais sensível à desestrutura familiar, foi o maior desafio de sua carreira: “Jamais fiz um personagem com tamanha densidade. Pensava que não ia conseguir”.

     Se Maria é a irmã visitante, Teresa, vivida por Eliane Giardini, é a residente, a que nunca se afastou da cidadezinha à beira-mar onde nasceu. Ficou para cuidar da mãe e tocar um casamento em crise. É, das três, a que retém mais vivas as lembranças da casa, mas é a menos bem-sucedida.

     Completa o triângulo Catarina (Ana Beatriz Nogueira), a caçula rebelde, incomunicável em seu discurso de “patinho louco” da família.
     
     Se a memória é tema recorrente no teatro de Hirsch, alguns elementos cênicos já utilizados por ele estão de volta em “A Memória da Água”. Uma tela transparente separa o palco da plateia provocando o efeito de uma neblina no olhar, assim como a projeção de imagens com influências de Stanley Kubrick e Ingmar Bergman.


     A água não está apenas presente no título. Sua presença é constantemente evocada. Uma das personagens explica que a água é um elemento capaz de reter, como uma fita magnética, os agentes com que entra em contato quando se registra uma mistura.
      
     Mas ao mesmo tempo a água é sempre uma ameaça por sua força diluidora e destrutiva. Como metáfora e como presença real, os personagens estão ameaçados. A casa onde preparam o cadáver da mãe para a cremação está rachando, e como está debruçada em um penhasco sobre o mar, seus alicerces podem ser derrubados pela força das ondas. 

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