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ÉDIPO REI, NO TEATRO DO SESC, UM PROGRAMA QUE RECOMENDO
Por Hildegard Angel
Fui assistir ao Édipo Rei no teatro do Sesc, em Copacabana…
A tragédia grega atravessa séculos, milênios, e não perde a
densidade. Ganha. Mesmo com a morte se tornando rotineira. Mesmo com os
horrores da guerra, os massacres, os fornos crematórios, as fossas
coletivas, bombas atômicas, guerras bacteriológicas, perseguições
religiosas, dizimações étnicas, indescritíveis torturas e monstruosos
suplícios ao longo de todos os séculos, com todos os horrores que a
espécie humana consegue conceber e produzir, os “micro-ondas”, as mais
vis máquinas de tortura e de morte, com as ditaduras, Guantanamo, os
paredões, as indignidades, infâmias e blasfêmias. Mesmo com todos os
morticínios, de todas as épocas da Humanidade, a tragédia grega se
mantém de pé com seu impacto, é incomparável em sua essência dramática,
fere-nos no mais fundo de nossa dor…
Montá-la é sempre um grande passo na carreira de qualquer produtor. Interpretá-la, o mesmo, na de um ator…
Nós, público, temos que agradecer, cada vez que isso acontece, pela
oportunidade de voltar a estar, como desta vez, com o texto de Sófocles…
Gustavo Gasparani, intérprete do papel-título, ousou também a coragem
da montagem. Minhas entusiasmadas congratulações pelos dois aspectos…
Amir Haddad compõe um Tirésias, o adivinhador, que vem do âmago, não
só dos sentimentos, como da vivência do verdadeiro e grande homem do
teatro…
Eliane Giardini, que grande Jocasta! No físico e no desempenho. Enche a
arena com sua verdade e sua intensidade. Boa atriz não tem discussão. E
importante: a novela ficou pra trás…
O Arauto Thiago Magalhães despeja o relato da tragédia acontecida nos
bastidores, e cada átomo da plateia do teatro de arena fica paralisado,
escutando. Visualizando. Desencumbe-se muito bem…
O Corifeu, Fabiana de Mello e Souza, o Creonte, César Augusto, o
impecável Rogério Fróes, impressionante como o Pastor, o Emissário Petro
Mario Biogianchini, um elenco absolutamente harmonioso e bem sincopado.
Até mesmo Louise Marrie, a Antígona, e Ismênia, Nina Malm, sem falas,
se saem bem em sua ação silenciosa e expressiva. São presenças muito
belas, todo o tempo em cena…
E já que estou com o elogiômetro solto, pois o espetáculo a isso
inspira – não à toa o diretor Eduardo Wotzik desfruta do alto conceito
que tem (vão assistir e concordarão comigo): Figurinos de Marcelo
Olinto, cenografia Bia Junqueira, iluminação Quinderé, direção musical
Marcelo Alonso Neves, visagismo de Uirandê Holanda, em tudo há cuidado e
esmero. Sófocles, em excelentes companhias…
Felipe Antello e Murilo O’Reilly, os músicos, na percussão
envolvente, desde o instante em que pisamos no teatro, ao som dos
tambores prenunciando o trágico….
O programa, muito bem realizado, traz fotos do talentoso Murillo
Meirelles. Uma produção cuidada, com patrocínio da Eletrobrás, que há
tempos se notabiliza pelo prestígio ao teatro nacional…
Reparo: alguns atores devem aumentar o volume da voz. Nos dias
atuais, é alta a faixa etária das plateias, as pessoas não escutam a
mesma coisa, não tem sentido os atores não se esforçarem em articular
bem e projetarem vogais e consoante com clareza. Só isso…
Depois, eu e meu grupo fomos curtir o after play na
Fiorentina superlotada. O garçom me confidenciou que àquela hora a casa
já devia ter atendido a mais de 1.500 clientes. A Fiora (apelido
carinhoso) é assim: a noite acaba nunca…
A horas tais, entrou na pizzaria o elenco do Édipo, com Eliane Giardini à
frente. Era mais um cast carioca à bordo. E Catito Perez, o
proprietário, me revelou: “Este mês estamos completando 500
espetáculos”. Tradução: desde que foi reaberta pelo Catito há 15 anos,
já são 500 espetáculos que a casa contempla com seu patrocínio, leia-se
boca livre total para todo o elenco e a técnica ao longo de toda a
temporada que estiverem em cartaz. E não são apenas os espetáculos com
artistas famosos. Também as peças de teatro amador são contempladas…
Não espantam os 1.500 clientes atendidos naquele dia. O bem que se
faz a nós retorna. Nessa “lei da natureza” acredito. Aquele lance da
energia positiva que atrai efeitos positivos. E o mesmo quando se trata
de energia ruim…
E assim vai longe o nosso Catito, Catito, Catito mio. Catito nosso.
Que naquela noite jantava com o Heraldo Pereira e a bela mulher do
jornalista, e contava a ele sobre seus planos para a casa de pedra da
Avenida Atlântica, que ele comprou e quer transformar num hotel de
charme como o Rio de Janeiro jamais viu. E está precisando…
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