domingo, 29 de julho de 2012

Uma Senhora Fogosa do Divino


No ar em 'Avenida Brasil' como a coroa cheia de energia Muricy, a atriz Eliane Giardini torna-se a representante das mulheres de meia-idade que se mantêm libidinosamente ativas – inclusive no braço de parceiros mais jovens

Entrevista feita por: Mariana Zylberkan






As cenas tórridas entre os coroas Leleco (Marcos Caruso) e Muricy (Eliane Giardini) podem facilmente ser tachadas de comédia pastelão. Nesta semana, e não sem deboche, os pais do ex-jogador Tufão (Murilo Benício) se atracaram numa trilha em Cabo Frio e se trancaram na despensa da casa de veraneio da família -- tudo às escondidas dos filhos e netos. Para além do humor, as sequências carregam um significado também sociológico. Mais que vértice de um par romântico torto -- Leleco e Muricy já foram casados e agora namoram os jovens Tessália e Adauto --, a personagem de Eliane Giardini representa um comportamento cada vez mais difundido entre mulheres de meia-idade: o de manter a chama sexual acesa na terceira idade. 
A atriz, que completa 60 anos em outubro, acredita que o papel a transformou numa espécie de representante das mulheres maduras sem pudor de se assumir fogosas. "Eu tenho muita curiosidade e um espírito jovial. Calhou de viver essa situação duplamente na ficção. Após a novela, vou estrear a peça Édipo Rei, de Sófocles, em que faço a Jocasta. Depois da Muricy, vou estar em Tebas às voltas com amores mais jovens."
Desejo sexual sempre existiu entre mãs e avós de família. A diferença agora é que, assim como Muricy, elas priorizam o prazer e assumem relacionamentos com homens mais novos. "Há muito pouco tempo, as mulheres tinham uma vida dependente dos maridos e restrita ao ambiente doméstico, o que as obrigava a se submeter a situações desfavoráveis. Ao ganhar espaço no mercado de trabalho, a mulher adquire autoridade e autonomia. A partir daí, ela conquista propriedade para ser dona dos seu nariz", diz Eliane.
Leia a seguir a entrevista concedida pela atriz Eliane Giardini ao site de VEJA. 
Muricy representa um perfil de mulher de meia-idade comum hoje?
Sim, ela vive uma situação bastante contemporânea e emblemática. Acho que é uma evolução da minha geração, que foi inovadora em muitos sentidos. Quem viveu os anos 1960 e 70 foi responsável por uma quebra forte de valores. É natural que essa mesma geração traga esse novo comportamento também na meia-idade. Essa cultura, aliada à maior expectativa e qualidade de vida, forma mulheres que não se deixam abater pela idade quando o assunto é sexo. 


A mãe de Tufão é uma inspiração para as mulheres que ainda querem se liberar?
 Claro que existe preconceito e insegurança entre as mulheres, o que as afasta da ideia de que é possível se realizar emocional e sexualmente na maturidade. Sempre há a visão de que o namorado mais novo só está com a mulher madura por causa de dinheiro. No caso do relacionamento entre homens maduros e moças novas, é exatamente isso que acontece, e todo mundo acha normal. As mulheres de meia-idade gostam de se ver representadas pela Muricy, uma pessoa absolutamente amável e desejável.

O Adauto contradiz esse perfil de namorado interesseiro? 

Sim, o Adauto é humilde e não é bancado pela Muricy, ele faz questão de trabalhar, fazer seus bicos e comprar presentes para ela. Adauto mora naquela mansão muito a contragosto. O autor fez questão de escrever a história desses dois jovens, Tessália e Adauto, pelo prisma do amor. Eles são lindos, absolutamente desejáveis e realmente apaixonados por essas pessoas mais velhas que eles. Não há nenhum traço de vilania.

Por que o público curte tanto Leleco e Muricy?
Todo mundo curte a novela, em primeiro lugar. Esse nosso núcleo foi um acerto grande do autor. A família do Tufão tem uma graça, uma forma muito boa de levar a vida. Fizemos umas cenas recentemente em Cabo Frio em que nos divertimos muito. É a própria família Buscapé.
O fato de ser uma família suburbana contribui para esse sucesso?
É uma família muito humana, todos são muito verdadeiros. Todos se interessam pelos assuntos dos outros, são calorosos. É bonito ver uma família funcionando com tanto afeto, eu acho que tudo isso faz desse núcleo um sucesso. Não há nenhum vilão entre eles, tirando a Carminha, claro, mas ela é agregada. Até a Tessália é absorvida pela família, apesar da Muricy torcer o nariz para ela por sentir ciúmes. Todos têm facilidade de se relacionar e demonstrar afeto. 

Muricy e Leleco ainda se amam? 
Eu acho que sim, existe algo forte entre eles. No início da novela, eles não estavam num bom momento, o casamento longo os transformou em mãe e pai em vez de homem e mulher. Quando Leleco começou a se relacionar com Tessália, Muricy ficou com Adauto só para não passar recibo. Ela fez isso para não ficar sozinha, mas é claro que o Adauto se revelou uma pessoa importante para a sua autoestima. Agora, ela está vivendo um bom momento. Pela sinopse da novela, era justamente isso que iria acontecer. Esse casal se abriria para virar um quarteto e depois se reencontraria às escondidas. É muito provável que eles voltem. O João Emanuel é tão surpreendente que eu não sei dizer o que vai acontecer. 

Você torce para Muricy ficar com Adauto ou Leleco? 
Sou apaixonada pelos dois, por mim ela não se separava de nenhum deles. Adauto e Leleco a fazem muito feliz de maneiras diferentes. 

Você se sente uma representante dessa mulher que não se deixa levar pela idade?
Acho que sim. Tenho muita curiosidade, um espírito jovial. Calhou de eu viver essa situação duplamente. Após a novela, vou estrear a peça Édipo Rei, de Sófocles, em que faço a Jocasta. Depois da Muricy, vou estar em Tebas às voltas com amores mais jovens. Mas, nessa história, o amante é meu filho. Eu acho ótimo viver personagens com amores mais novos. Eu gosto de ver pessoas mais velhas com vida afetiva, eu acho que tem que ter espaço para isso. 

No caso da Muricy, os filhos a apoiam? 
Apoiam, porque ela é uma mulher muito forte. A Muricy trabalhou a vida inteira, criou os filhos praticamente sozinha. Ela ganhou muita autoridade dentro de casa por ter sempre atuado como provedora. Dificilmente os filhos não considerariam uma decisão da mãe. 

Essa experiência de ser arrimo de família a ajuda a ser mais ativa afetivamente? 

A emancipação feminina passa pela possibilidade da mulher conseguir se prover. Há muito pouco tempo, as mulheres tinham uma vida dependente dos maridos e restrita ao ambiente doméstico, o que as obrigava a se submeter a situações desfavoráveis. Ao ganhar espaço no mercado de trabalho, a mulher adquire autoridade e autonomia. A partir disso, ela conquista propriedade para ser donas do seu nariz. 

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