quarta-feira, 27 de junho de 2012

Na casa do cafajeste das seis, Dona Patroa é quem manda


Em Entrevista, ao jornalista Júlio Gama do  jornal Estado de São Paulo, no dia 06 de Junho de 1993 Eliane Giardini e Paulo Betti faziam a referência de seus personagens nas Novelas Renascer e Mulheres de Areia.

Segue, abaixo, a entrevista na íntegra....

Na casa do cafajeste das seis, Dona Patroa é quem manda
Eliane Giardini e Paulo Betti, a Dona Patroa de Renascer e o Wanderley de Mulheres de Areia, se apaixonaram e começaram a namorar em Sorocaba, Interior de São Paulo, quando ela entrou para o grupo de teatro dele. Foi atração á primeira vista e os dois achavam que o romance acabaria logo. Há mais de 20 anos, convivem com a iminência da separação, como contam divertidos e muito a vontade. Embora as diferenças sejam motivo de discussões, eles creditam a elas a durabilidade do casamento. Eliane é estudiosa, caseira. Paulo, como ele mesmo se define, mais exibido. Ela lembra detalhes das duas décadas a dois. Como quando o marido disse que não estava preparado para ser pai e ela tascou: “já foi”. Nasceu Juliana, de 16 anos.  Quatro anos depois, Mariana, a segunda filha. Hoje Paulo quer um filho homem. Ela não.

Telejornal: Como foi o primeiro encontro?
Eliane Giardini:  Foi em Sorocaba, em 1970. O Paulo fazia parte de um grupo de teatro. Eu voltava de uma filmagem na Paraíba, fui convidada para entrar no grupo e nos conhecemos.
Paulo Betti: A Eliane era uma estrela de cinema em Sorocaba por causa desse filme na Paraíba.

Telejornal: Quando começou o namoro?
Paulo: Imediatamente, eu era a pessoa mais interessante do grupo.
Eliane: Eu também (risos).
Paulo: A gente se entendeu, digamos sensualmente mais rápido, foi uma atração que bateu e não parou até agora. Nossa relação é muito proveitosa, há um estímulo de crescimento.
Eliane: É um movimento circular, feito as quatro estações. Quando um está fazendo muita coisa fora, o outro está aqui dentro estimulado com outro tipo de trabalho. São movimentos antagônicos mas complementares.

Telejornal: mas agora o Paulo está no teatro e em Mulheres de Areia, e você faz sucesso com a Dona Patroa, de Renascer,


Eliane: Estou num movimento exterior, primeira novela das oito, o reconhecimento. O Paulo quer estudar, pagar uma bolsa nos estados Unidos, está numa fase de se realimentar. Também tem o fato de temos nos conhecido muito novos com 16,17 anos...
Paulo: Não não.
Eliane: Claro, Paulo, foi em 70..
Paulo: Não, tínhamos 19 anos.
Eliane: Bom, não sei. Éramos muito novos de qualquer forma.
Paulo: Temos um trajeto muito parecido, fomos juntos para a Escola de Arte Dramática da USP, tínhamos a mesma idade, vimos as mesmas coisas e ao mesmo tempo mantivemos a individualidade. A Eliane é mais introspectiva e eu extrovertido.

Telejornal: Do namoro para o casamento quanto tempo passou?
Eliane: Casamos um ano depois do inicio do curso da USP.
(A gata siamesa “ Mãe” entra)
 Paulo: Ela não gosta da gata.
Eliane: Não é que eu não goste. Ela apareceu prenha, já teve filhotes duas vezes e agora deu de arrebentar os móveis. Me irrita. Está destruindo essa poltrona que acabou de ser estofada.
Paulo: Precisa forrar as poltronas. A gata é linda, maravilhosa.
Eliane: a gente tinha uma cachorra que morreu. Eu estava acostumada com ela e aparece essa gata que não obedece, você chama, ela fica olhando com cara de tonta.
Paulo: Acho que você deveria gostar mais de gato, Eliane.
Eliane: Ah, você acha?

Telejornal: Bem, depois do casamento, vieram as filhas. Foi decisão dos dois?
Eliane: Não, o Paulo foi à reboque. Ele me joga para o mundo exterior e eu jogo ele para dentro de casa com o casamento e os filhos. O Paulo disse que não estava preparado para ser pai e eu disse: já foi.
Paulo: Mentira. Não lembro, mas acho que não foi assim. Tanto que agora quero ser pai novamente.
Eliane: Mas agora eu não quero.
Paulo: Quero ter um filho homem, acho importante perpetuar meu nome, ter um herdeiro (risos).

Telejornal: E com a segunda filha?
Eliane: Foi a mesma coisa.
Paulo: Ah, mentira sua, Eliane.
Eliane: Paulo, para de onda.
Paulo: (rindo) Sabe qual é o problema de um casamento antigo? É que você não grava as coisas. Vai ver que eu é quem queria ter os filhos e não lembro.
Eliane: Eu lembro direitinho.

Telejornal: Vocês casaram na igreja?  
Paulo: Casamos.
Eliane: Por causa da minha mãe.
Paulo: É que a gente era muito babaca, tinha uma caretice. Por exemplo, não batizamos as crianças, hoje acho isso uma bobagem.
Eliane: Não acho.
Paulo: Pensamos: vamos esperar elas quererem ser batizadas. Naturalmente, estamos batizando as duas hoje com um padre amigo.

Telejornal. As diferenças ajudam a manter o casamento?
Eliane: Eu acho que sim. A psicologia explica. A relação acaba completamente quando um não mais está espelhando para o outro nenhuma ansiedade ou inquietação.
Paulo: Não digo que seja esse o motivo e não saberia dizer qual é, mas tenho alguém em quem confio no gosto, na autenticidade.

Telejornal: Quem é mais crítico quanto ao trabalho do outro?
Paulo: Muitas das coisas que faço passam pelo crivo da Eliane. Isso dá uma segurança incrível. É bom.
Eliane: Para mim também. Confio muito no julgamento dele.
Paulo: Acabei de estrear Viagem à Forli e passamos seis horas conversando sobre a peça. Aceitei todos os toques que achei justo. Alguns são a diferença mesmo. Tipo: Isso vou continuar fazendo assim porque é assim.
Eliane: Temos uma crítica eterna. O Paulo acha que faço blasé demais. Meu defeito, digamos, é não fazer. Acho o máximo da sofisticação. O defeito dele é o contrário: Faz muito blasé. Eu falo: Está fazendo muito. Ele fica louco. Quando ele fala 'Está fazendo pouco', acho que ele não esta vendo o grande lance da minha interpretação.

Telejornal-  Dona Patroa está na medida?
Paulo:  Acho que sim. E muito bom o trabalho dela. As pessoas tiveram um pouco de dificuldade em perceber a atriz que ela é, porque eu fico soltando foguetes em volta, fazendo barulho feito um macaco, enfim, fazendo uma onda danada e talvez tenha jogado uma sombra na carreira dela. Mas era impossível o grande público não enxergar o trabalho da Eliane. Falo de TV. No teatro ela tem uma carreira sólida.         
Eliane. A novela Renascer  é especial porque privilegia o ator, mas em geral a TV vive muito  de burburinho, de festas, e eu sou avessa à badalações, adoro ficar lendo em casa, martelando meu piano. Essa coisa de que o auge e o camarote da Brahma no carnaval não é comigo.
Paulo: Apareci mais na mídia por causa da militância do PT.
Eliane: Militante eu nunca fui.

Telejornal. Quem se dá melhor com as crianças ?
Paulo: A Eliane. Ela acompanhou mais o crescimento das crianças. Isso é uma falta que sinto.
Eliane:  Nesses dez anos em que elas cresceram, você esteve muito fora. Quando estava em casa, estava debruçado sobre um texto.

Telejornal Quem e o mais ciumento?
Eliane: eu sou mais dona (risos)
Paulo: às vezes tenho ciúme, mas me controlo.
Eliane: Eu melhorei. Hoje não sou tão ciumenta.
Paulo : Imagina se  não.

Telejornal O ciúme é resolvido em casa ou com um beliscão no meio da rua?
Eliane: É na hora. E só perceber que ele esta mais entusiasmado que já digo: Pô, qual é?
Paulo: Às vezes não é bem o entusiasmo que demonstro...
Eliane: Acho que fui mais ciumenta em virtude da pouca satisfação profissional. Você fica com inveja, vê a pessoa se relacionando com todo mundo. É ciúme da posição e não dele em si. Nunca me contentei em ser dona de casa. Queria uma produção minha e, no período em que não tive, era natural que ficasse em cima dele.

Telejornal: Quem é o mais apaixonado?
Eliane: nenhum...
Paulo: Acho que a Eliane é mais preguiçosa.
Eliane: o que você quer dizer?
Paulo: Não. Não tem nenhum problema. O que há é que a gente estáa sempre querendo transformar o outro e enquanto a gente achar que isso é possível a gente fica junto.

Telejornal: Vocês brigam sempre?
Eliane: Muito a coisa vai lá em cima por uma bobagem. É tudo muito dramático, muito italiano. Mas acaba rapidamente.
Paulo: o dia a dia nunca é estimulante. Você acaba despejando no outro uma insatisfação momentânea provocada pelo exterior. Ainda não temos imunidade para separar as coisas. Mas estamos evoluindo.

Telejornal: Em mais vinte anos vocês chegam a perfeição?
Eliane: (rindo) Ah, meu Deus, mais vinte anos é fogo. Acho que se tivesse morado sozinha uns três anos, eu não casaria. Mulheres separadas há quatro anos dizem que não querem saber de homens. Eles chegam em casa jogando sapato, cueca. Não dá.

Telejornal: Já pensaram em casas separadas?
Eliane: Várias vezes. Por isso. O Paulo ocupa muito espaço, fica no telefone o dia inteiro falando alto. Ainda bem que ele passou a ficar a maior parte do tempo na Casa da Gávea (espaço Cultural do qual é presidente). O Paulo fica assim: Cadê aquele negócio meu. Ele quer na hora e todo mundo tem que largar o que está fazendo para procurar o negocio do Paulo. Cara, é um inferno.

Telejornal: É Paulo?
Paulo: Existem certos exageros...
Eliane: Ele fica bravo quando digo que fala alto ao telefone.
Paulo: Eu não acredito no aparelho. Eu acho que a pessoa não está me ouvindo de verdade (risos).

Telejornal: O Paulo é do tipo que respinga pasta de dente no espelho do banheiro?
Eliane: Isso não, mas papel...nós vamos ser soterrados por papel nessa casa. Eu preciso arrumar tudo para achar um cantinho para guardar minhas coisas porque ele ocupa tudo. No resto, é cuidadoso.
Paulo: Por outro lado sou muito estimulante.
Eliane: A Eva Wilma está ensaiando uma peça dirigida pelo Paulo e me disse: “ Eliane, não sei como é para você, mas encontrei o diretor da minha vida”.

Telejornal: o que é um bom motivo para vocês brigarem?
Eliane: é quando o Paulo chega e fala: Não trocou essa lâmpada ainda? quando uma lâmpada está há uma semana queimada. Ele chega com uma cara tipo: O que você fez até hoje que não trocou essa lâmpada. Isso me deixa louca.
Paulo: Casal tem a coisa do “precisa”: precisa fazer isso, aquilo. Alguém tem que fazer alguma coisa...
Eliane: Ele está com o telefone na mão e diz: Precisa ligar para o cara do cupim. Digo que ele está com o telefone e ele:  Você quer que eu faça isso também.

Telejornal: Quem é a dona Patroa e o Wanderley do casal?
Eliane: O Paulo não tem nada a ver com o Wanderley. Eu tenho proximidade com a dona Patroa. Nós duas estamos ganhando nome ao mesmo tempo: Dona patroa começa a ser chamada pelo nome de Iolanda, e as pessoas começam a saber quem eu sou. A Dona Patroa é uma pessoa da sombra que está buscando a luz. Isso é muito parecido com a minha trajetória profissional.

Telejornal: Vocês já fizeram TV juntos?
Eliane: Fizemos um Você Decide.

Telejornal: Preferem trabalhar juntos ou separados?
Paulo: Junto é gostoso, mas separado é melhor: rende mais assunto e dá uma folga. E outra: na coisa de criar, gosto que a Eliane veja, mas quero surpreender também.

Telejornal: Qual é o melhor trabalho da Eliane?
Paulo: Na Carreira do Divino, peça que deu origem ao filme Marvada Carne.

Telejornal: E do Paulo...
Eliane: Viagem à Forli.
Paulo: o meu melhor sempre é o ultimo (risos).
Eliane: Você é horrível, Paulo. Está competindo muito comigo.
Paulo: é que eu era muito medíocre como ator. Estou Melhorando.
Eliane: Também acho.
Paulo: Estou ouvindo mais os conselhos da Eliane. Antigamente andava em cena, parecia que havia tomado um choque elétrico.

Telejornal:  O amor é eterno enquanto dura, ou se acaba não era amor?
Eliane: Se acaba não era amor. É quase impossível: Estamos indissoluvelmente ligados, vivemos juntos mais tempo do que sozinhos. São 22 anos com o Paulo e 18 sem ele.
Paulo: Acho que o amor tem fim.

Telejornal: Vocês trocam presentes no dia dos namorados?
Eliane: Não me lembro
Paulo: não, a gente tenta diariamente ser legal um com o outro.

Telejornal: Qual é a formula para manter um casamento de 20 anos?
Paulo: o interesse maior não pode ser construir uma relação. Se você se preocupar com o individual e com o seu crescimento, com as coisas de que você gosta, e conseguir associar isso convivendo com outra pessoa, dá pé.
Eliane: é isso. O Sonho não pode ser o casamento. Não pode estar fora de você.
Paulo: o mais importante é que nós acreditamos que nossa relação está viva e achamos isso bom. Se chegarmos a conclusão de que não vale mais a pena, então devemos tomar uma atitude. E outra, a gente se pergunta isso todo dia.
Eliane: é toda briga acaba nisso.
Paulo: A gente fala: Vamos nos separar agora, mas será que dá pra fazer a peça antes. A gente constrói tudo junto, mas na iminência de poder acabar agora.

Telejornal: Isso é ruim?
Paulo: é inevitável. É assim que é e sempre foi. Nunca falamos Vamos ficar juntos por toda a vida. Nunca tivemos sequer conta conjunta em banco.

Telejornal: Já se separaram?
Paulo: Já, ficamos um ano separados, e foi muito engraçado porque tínhamos acabado de sair de um programa de TV onde fomos contar como era um casal feliz. Cascateamos o tempo inteiro que vivíamos felicíssimos, saímos dali, brigamos e nos separamos.

Telejornal: Se vocês brigarem até dia 06 me avisem?
Paulo: você está nos entrevistando com muita antecedência (risos)
Eliane: É arriscado...

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