sexta-feira, 3 de maio de 2013

Cabeça & Corpo (1983)

      Vejam só o que encontramos: o cartaz da peça Cabeça & Corpo, acompanhado de uma crítica publicada no Estadão e uma foto do elenco, extraída da biografia do diretor Silnei Silveira. Como faz trinta anos dessa montagem, acreditamos que poucos sabem a respeito dela. Por isso, resolvemos postá-la aqui: porque recordar é viver! Ah, e antes que esqueçamos: Eliane Giardini interpretou Lucia Krassilk.

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A Dança das Cabeças em Crise
Por Jefferson Del Rios
Estadão
13 de Setembro de 1983


     Uma comédia de amor, ou melhor: uma comédia sobre os desacertos do amor numa determinada faixa social. Mauro Chaves, que já demonstrou acuidade em observar setores da classe média brasileira em Os Executivos, retorna ao teatro com o mesmo bom humor e talvez maior dose de sarcasmo ao descrever dois tipos de desabamentos: o financeiro e o existencial dos segmentos mais arrivistas e propensos ao novo riquismo desta mesmíssima classe-média, desta “burguesia” de fancaria, se é que o termo burguês cabe aos pobres diabos engravatados das metrópoles nacionais.



     A obra de Mauro Chaves revela os pequenos negócios, as falcatruas imobiliárias, a rendição moral de uma gente que sobe e desce ao sabor de fatores econômicos que escapa às suas existências. Sobra ainda, algumas pontadas a um tipo de intelectualismo pedante e destituído de maior força humana e cultural. E no meio de tudo, mulheres infiéis, mulheres chateadas, mulheres à deriva. Os triângulos se desdobram em outras possibilidades geométricas; e com um punhado de filhos de quebra. É engraçado e patético.

     O autor abusa de certas inverossimilhanças (um corretor imobiliário e um professor universitário não passariam, como ocorre, uma procuração perigosa a um advogado visivelmente malandro, etc); incide também no velho recurso dos telefonemas providenciais que facilitam (ou complicam) a ação. Mauro Chaves é, porém, um dramaturgo elegante, um engenhoso frasista e os fatos se arrumam do melhor jeito para o divertimento do público.



      Silnei Siqueira, na direção, com impecável tarimba de encenador de comédias, faz o espetáculo correr exatamente no ritmo e no clima que o enredo sugere. A encenação é clara e irônica, não procurando nenhuma grandiloquência teatral. Aqui está uma das características marcantes de Silnei: simplicidade e eficiência. O seu teatro passa o recado na medida proposta básica da peça, evitando rebuscamento, redundâncias, fogos de artifícios e demais truques do ramo. O diretor sabe lidar com o elenco numa linha de espontaneidade em que as melhores qualidades de cada interprete afloram naturalmente. Umberto Magnani, definitivamente um dos bons atores paulistas, tira de letra o papel de marido falido e enganado. Eliane Giardini, amadurecida, está segura na sua elegância interpretativa e nas súbitas reviravoltas cômicas da esposa-amante-senhora-de-dois-maridos. Zécarlos Andrade, sem exageros, encontra o tom convincente para o intelectual. E a surpresa da intervenção imaginosa e engraçada de Paulo Deo como o pilantra escolado. Sobre todos estes acertos, o toque romântico e sutil da bonita musica de Almeida Prado. Enfim, uma caricatura de luxo.




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